STORIES
Compartilhe
Chapéus de tirar o chapéu: o desfile de Davi Ramos na SPFW

Chapéus de tirar o chapéu: o desfile de Davi Ramos na SPFW

Mario Mendes 
October 23, 2025
Eventos

O que faria divas absolutas de outros tempos, algumas já afastadas das passarelas, retornar de bom grado, numa tarde fria e chuvosa, ao ritmo alucinante de uma semana de moda?

Os chapéus de Davi Ramos, isto sim.  

O grupo de modelos icônicas foi o centro do desfile de estreia de Davi Ramos como chapeleiro de sua própria marca, que por enquanto só vai atender individualmente e com hora marcada. Em suma: alta chapelaria.   

O desfile, no São Paulo Fashion Week, marcou um novo ponto alto na trajetória de 40 anos de Davi, um dos stylists mais requisitados da moda brasileira.

Davi começou no backstage nos anos 80, e de lá pra cá assinou trabalhos para grandes marcas em editoriais, campanhas publicitárias e desfiles – boa parte do tempo com sua parceira profissional, Flavia Pommianosky. 

O desfile de domingo mostra que ele continuará fazendo cabeças, agora de outro jeito. 

Mas antes de falar do desfile, é preciso explicar aos não-iniciados: “stylist” é o profissional que cria imagens de moda para fotos, filmes e desfiles – unindo edição de roupas e acessórios, concepção de cenários e casting de modelos, entre outros afazeres.

É um trabalho minucioso que requer olho clínico, criatividade, repertório e muita, muita ralação. Já o “estilista” é o idealizador de um conceito e o designer de uma coleção para uma marca. 

Davi tem um caso antigo com os chapéus. No decorrer de sua carreira, fez uma extensa pesquisa sobre o assunto, desenvolvendo peças autorais tanto em seu trabalho como stylist quanto para figurinos de teatro e shows, festas e bailes de gala.      

Ao finalmente “sair do armário” como estilista, reuniu 25 acessórios de cabeça e batizou a coleção de “Amor e Laços”. No desfile do SPFW, as roupas das modelos também eram de sua autoria, para dialogar com o que Davi colocou na cabeça delas. O resultado foi renovador e lírico. 

Davi inundou a passarela com chapéus de abas largas, delicados fascinators – aqueles ornamentos que parecem pousados na cabeça – laços extravagantes, casquetes refinados, turbantes, boinas, bonés, véus, lenços e até máscaras, além de uma peça que lembrava um guarda-chuva e outra que parecia uma divertida cúpula de abajur.  Nada é espalhafatoso ou caricato. Ao contrário, o conjunto é sedutor, irreverente, misterioso e sofisticado. 

Davi optou pelo grafismo do preto e branco, construindo um clima nostálgico e festivo. Ousado? Sim. Dramático? Também. Afinal, usar um chapéu exige mesmo postura, atitude e performance.

Davi vestiu suas top divas com trajes que esbanjavam detalhes: laços, grafismos, plumas, transparências, franjas e babados. Os longos eram esvoaçantes e algumas peças, estruturadas como casulos, com algumas interferências de vermelho, verde, rosa e amarelo. 

Mas falemos das divas. Explodiram na passarela, em todo seu esplendor, faces como Claudia Liz, Alessandra Berriel, Luciana Curtis, Shirley Mallmann, Barbara Fialho, Carol Ribeiro e Ana Claudia Michels, que hoje é médica. Devidamente clicadas, num estúdio montado no backstage, pelas lentes de Bob Wolfenson. Na trilha sonora, um compilado de hits dos anos 80, desconstruídos de maneira genial pelo DJ Zé Pedro.

Olhares fashionistas mais experientes reconheceram no desfile referências a Roma de Fellini, My Fair Lady, e aos desfiles/shows da Rhodia na antiga FENIT (a Feira Nacional da Indústria Têxtil) nos anos 60 – a gênese da moda brasileira como a conhecemos hoje.

Foi uma tarde emotiva, acolhedora, calorosa, especial.

O eixo Paris-Londres pode ter o inglês Stephen Jones e o irlandês Philip Treacy – chapeleiros reconhecidos e festejados. Mas só a SPFW tem Davi Ramos.

No items found.

PRÓXIMA LEITURA